sexta-feira, abril 28, 2006

Menos grandioso e mais identificável

Muito mais prazeroso de ler e muito menos dogmático e messiânico do que o texto de Levy, o livro Cultura da Interface (Jorge Zahar Editor), de Steven Johnson, tira a discussão de um âmbito mais ontológico e joga o usuário frente a frente com o instrumento que vem modificando a linguagem. O foco é a relação entre o computador e quem o usa, mais precisamente no uso do texto dentro do computador. Se no início dos home computers, a tecnologia não era tão atraente, pois ainda parecia um computador, uma “maquina fria”, o avanço tecnológico vem aprimorando a tecnologia de suas máquinas pensantes, atraindo os usuários, desde o mais fascinado geek de computadores até o usuário mais casual.

O computador cada vez mais assume a capacidade de se adequar às necessidade de quem o usa. E os editores de texto não fazem diferente. Ao se aproximar da forma conhecida de escrita, cria um vínculo de familiaridade com quem já era habituado às formas tradicionais, ao mesmo tempo que não deixa de fazer a sua "coisinha nova". E no que concerne às possibilidades de escrita, aí sim temos muitas possibilidades. A escrita se agiliza e se torna imediata acompanhando os velozes toques no teclado e se eterniza rapidamente num "save" automático. E nem me atrevo à falar sobre as possibilidades de interpretação que a internet proporciona. O Levy já falou antes.

Ouça, mas não caia demais na do Levy.

Numa primeira leitura, as opiniões de Pierre Levy em “O Que é o Virtual” (Editora 34) parecem impressionantes. Quu estamos reinventando nossa própria existência, que o ser humano está se tornando algo maior, algo capaz de abrigar diversas outras formas de existência dentro de si, tornando-se uma espécie de hipercorpo, contendo outros significados e incorporações.

Mas numa observação mais atenta, dá pra ver obviamente que Levy exagera um pouco na dose. Não que suas idéias não sejam interessantes, mas que a importância dada a algumas observações acabam por si só banalizando o ponto inicial da discussão. Isso é claramente visível no capítulo da virtualização do corpo, onde ele tenta buscar abrigo nos instintos básicos do ser humano, mas resvala em interpretações que remetem a novas faces de seu comportamente, o que achei um tanto descabido. Quanto à virtualização do corpo referente aos meios de comunicação de massa, confesso que achei curiosa, embora dêmargem para algumas interpretações pessimistas.

Quando comenta sobre a virtualização do texto, Levy se sai um pouco melhor. Considero a internet o terreno de uma nova linguagem, que se apropria de outros elementos e cria o seu próprio. Ainda é uma linguagem em desenvolvimento, mas as inúmeras possibilidades não deixam de ir ao encontro das observações de Levy. As possibilidades de múltiplas interpretações e de rápida pesquisa aceleram esse processo evolutivo (ou melhor dizendo, mutativo??) numa velocidade assustadora. Talvez mais assustadora do que notável e maravilhosa, como Levy acredita. Até porque essa nova linguagem caminha para se tornar a maior de todas.

Numa obervação mais geral e direta, acredito no seguinte. Levy viaja demais na maionese, é fato. No entanto, ele não deixa de ter interessantes pontos-de-vista, com interpretações inusitadas e até certo ponto, lógicas, que merecem ser ouvidas e discutidas. Mas só não vale ir demais na onda dele.